M
9.The
Smile to Sky
Opening: YUI - Laugh Away
Algo de que eu muito me perguntava era o
que a pessoa que eu gostasse faria depois que se declarasse a ela. Minha mente
de apenas dez anos não sabia dessas coisas, mas queria saber. Runa e Ariya
estavam em uma relação muito boa. Eles estavam ‘ficando’, como ela tinha me
dito. Será que eles não tinham vergonha?
Talvez este fator seja algo que só esteve em minha cabeça, porém eu não sabia
como me livrar dele... Ele não me
ensinou.
- Ei Shino, a gente vai ao cinema, não quer vir? –
Perguntou Runa.
- Claro! Quem vai?
- Eu, o Ariya, a Lucy, o Hatase, a Nao, a Airi, e a Hina. – As últimas três meninas eram
muito amigas nossas – Vou ver se convido o Daisuke também.
Dei risadas e disse:
- Se bem que acho que o Daisuke não iria.
- Por que? – Disse Runa.
- Sei lá... Não é muito a cara dele.
Quando me encontrei com o Daisuke, fiz uma
brincadeira com uma caneta que tinha aprendido com meu tio. Eu pegava a
tampinha e a caneta e ficava girando uma envolta da outra.
- O que é isso? – ele perguntou.
- Espera... Estou magnetizando a caneta. – Respondi
absurdamente.
Em seguida coloquei o bico da caneta, que estava em
uma das mãos, apontando para o lado aberto da tampa, que estava na outra mão,
sem encostá-las. Em seguida a tampa se encaixou na caneta como se fosse um imã.
- Uau, como você fez isso?
- É mágica.
- Espera... Refaça.
Eu refiz e ele logo adivinhou.
- Ah, entendi... Você empurra a tampinha com o dedo
pra ela ‘pular’ para a caneta.
- É, isso aí. Adivinhou rápido...
- Deixe-me tentar.
Ficamos fazendo isso por um bom tempo. Eu não era
muito boa, mas ficamos treinando para pegar prática. Mais tarde mostramos para
a Runa e os outros.
- Você vai ao cinema? –Perguntei ao Daisuke
- Ah, não sei... Vou ver.
- Hm... Vai sim! – Dei um tapa na cabeça dele e saí
correndo olhando pra trás e vendo o sorriso tímido característico dele.
No cinema ocorreram algumas confusões. Nao, Hatase,
Lucy e Hina chegaram lá primeiro e já entraram. Quando eu, a Runa, o Ariya e a
Airi chegamos, estávamos atrasados e não conseguimos entrar naquela sessão, por
isso tivemos que entrar na sessão que tinha acabado de começar. Entretanto, no
final do filme nos encontramos na saída, como esperado, o Daisuke não havia
vindo. Já que estávamos lá, aproveitamos pra tirar uma foto.
- Que pena que o Daisuke não veio né? – Disse Lucy.
- Eu sabia que ele não vinha – Dei uma risada para
disfarçar minha tristeza por esse fato. – Acho que ele nunca foi a um cinema. –
Tirei sarro e gargalhei falsamente.
- Shino... – Lucy me chamou sem brincadeiras.
- Sim?
- Por que você não se declara para o Mitsuhiro?
Me declarar para o Daisuke? Era quando você diz para
a pessoa o que você sente por ela? O que eu sentia pelo Daisuke era o que eles
chamavam de ‘amor’? Era algo que eu não conseguia colocar em meras palavras,
era como se o que eu sentia superasse qualquer palavra.
- Ah, mas ele nem gosta de mim.
- Como não? Está meio que na cara que vocês se
gostam... Até a Airi, a Nao, e a Hina já notaram.
- Sério? – Abri a boca com ar de surpresa. – M-mas
como? – Corei.
- Bem, ninguém disse nada, viu? Elas que perceberam
e vieram falar comigo e com a Runa.
Lucy deu risada e insistiu na declaração ao Daisuke.
Após essa noite eu fiquei pensando seriamente em me declarar.
Foi aí que minha cabeça formulou as mais sufocantes
perguntas:
“E se ele não gostar de mim? E se ele começar a me
ignorar? E se a escola inteira souber? E se nossa amizade for estragada por
simples palavras? E se ele não quiser mais me ver? E se alguma outra menina que
goste dele começar a pensar mal de mim? E se ele me achar uma estúpida? E se
ele me der um fora? E se as outras pessoas começarem a tirar sarro de mim? E
se...?”
Minha cabeça doía. Eu não queria mudar aquele
ambiente. Eu só queria ficar sempre o Daisuke. Sempre...
Na nossa escola, Utakata, tinha um pátio na entrada
interna. Nesse pátio havia um mini palco. Do lado direito havia o banheiro das
meninas e do esquerdo o banheiro dos meninos. Do lado oposto tinha uma porta, que após
passá-la, ia-se de encontro com um enorme corredor. À direita havia a direção e
uma escada para o andar de cima. No corredor encontravam-se várias salas de
aula. No andar de cima, idem, e também a biblioteca. No andar debaixo, como eu
havia dito, tinham várias salas, e no final do corredor deparava-se com duas
escadas compridas, uma de cada lado. Após descê-las encontrava-se o refeitório
e a cantina, com muitas mesas e cadeiras.
Depois do refeitório havia outra porta, que após atravessá-la havia um
pequeno pátio com uma ou duas mesas do lado esquerdo e um banheiro feminino e
outro masculino. Era onde a escola acabava.
Na semana seguinte, eu, Runa, Hina, Ariya, Daisuke,
Airi, Nao, Hatase e Lucy – o “bando” – fomos brincar de “Detetive”. Depois de
sair correndo do corredor, sentamos na comprida escada do lado esquerdo. Lá
ficamos jogando e lanchando. Após um tempinho encerramos a brincadeira. As
meninas foram para o banheiro e os meninos foram pegar a sobremesa do dia. Fui
à cantina comprar chiclete e sem eu perceber, Daisuke bateu na minha cabeça.
- Seu Vaca Azul! – Gritei. – Volte aqui!
- Aqui o seu troco mocinha – Disse a ‘tia da
cantina’.
Quando comecei a correr para devolver o tapa, eu já
não o via mais.
- Acho que ele deve estar escondido no corrimão da
escada – Pensei. Já que o corrimão daquela grande escada era de concreto, dava
muito bem para alguém se esconder lá.
Subi, mas não ele não estava lá. Terminei de subi e
vi que na outra escada ele também não estava. Então fiquei observando de lá de
cima pra ver onde estaria. Após um bom tempo percebi que ele estava do lado do
refeitório com o Ariya, a Runa e Lucy. Parecia que estavam ali bom um bom tempo
e eu sequer tinha notado. Ia descer da escada para ver o que eles estavam
falando quando recuei. Decidi ficar observando um pouco. Daisuke estava
encostado na parede, Ariya em sua diagonal. Runa e Lucy estavam de frente para
Daisuke, que estava sorrindo com aquele jeito tímido dele. Elas pareciam estar
pressionando ele de alguma coisa. Eu estava tentando descobrir o que eles
estavam falando, mas tudo em vão. Foi
quando um mero gesto de Daisuke fez meu coração acelerar como nunca; ele apenas
ergueu a cabeça em linha reta sorrindo como se o céu tivesse realizado um
milagre. Eu nunca pude me esquecer dessa cena. Eu logo sorri, ao vê-lo sorrindo.
Após ele ter dito algo e ter feito esse gesto que
fez meu coração saltitar, as meninas saíram daquele lugar e o sinal do
encerramento do intervalo tocou. Elas subiram as escadas e perguntei:
- Ei, sobre o que vocês estavam falando? – Perguntei
sorrindo curiosa.
- Shino... – Runa me agarrou pelos ombros e vi Lucy
rindo – Parece que o Daisuke...